Um dia eu toquei suas
mãos e senti que havia me encontrado, pela primeira vez.
E troquei, contigo, frases e segredos que eram meus desde
sempre. E que agora não são mais segredos e sequer me pertencem, já que os
dividi contigo.
E dei-te presentes. Não eram pra te agradar, nem pra
conquistar nada de você. Apenas me agradava, já que era em busca de seu sorriso
que eu o fazia.
E, assim, um dia nos amamos...
Em palavras, corpos, fogo, asas, letras.
Fizemos uma prece sagrada e te canonizei santa de meu altar.
E tu me deste tudo que era teu.
E eu te exigi mais do que devia:
não me bastavam mais teus versos, teus olhares, tua cumplicidade.
Não me bastava imaginar que
existia.
Queria-te inteira, corpo e fogo
novamente. Queria a carne e não só a prece.
Fiquei vil, reles. Voltei à minha
humanidade.
Mas nunca te fui indiferente.
Nunca me esquivei de ti.
Mas me doía cada vez que te
falava e tua única palavra era “nada”.
Teu único diálogo era o silêncio.
E eu sabia que estar com você,
ainda assim, era tudo que eu queria. Mas sentia em mim que eu estava sendo um
tolo.
Porque era amor o que eu
sentia...
Mas, em mim, eu sabia que não o
receberia mais...
Só suas juras, suas palavras.
Sequer com suas promessas eu podia contar: que planos você traçou pra nós que manteve? Que planos ainda
temos pra sonhar, já que não há jeito de você se permitir entregar, enfrentar?
Você não percebe que é você que teme. Que é você quem evita,
quem foge, quem quer e não quer.
Não, eu não quero a parte ruim do amor.
Não, não quero te ferir com palavras de lamentos, nem te
culpar.
Não, não vou escrever nada pra te ferir.
Não, não te prometo este como meu último poema pra você.
Meu coração é uma fresta na porta da esperança, entre o
inferno e o céu. A luz que brota ainda é a do teu olhar.
...